Quando a política vira religião: O perigo da idolatria nas ideologias modernas

  • 19/11/2025
Quando a política vira religião: O perigo da idolatria nas ideologias modernas
Quando a política vira religião: O perigo da idolatria nas ideologias modernas (Foto: Reprodução)

Introdução

Assim como já foi abordado nos artigos anteriores, vivemos em um tempo onde a pergunta “qual o seu posicionamento político?” parece definir o caráter de uma pessoa, ao ponto de muitos se afastarem de parentes e amigos quando estes não compartilham da mesma forma de pensar e como se o seu espectro político fosse perfeito.

No entanto, para o cristão, existe um perigo sutil e silencioso escondido nos discursos partidários que vai além da questão dos relacionamentos: a confusão entre ideologia e teologia.

E para entendermos melhor o cenário atual, precisamos definir o que é, de fato, uma ideologia[1]. Não se trata apenas de uma preferência de voto, mas de uma “cosmovisão[2]”, ou seja, uma teoria política que tenta explicar toda a realidade. Nesse sentido, ela dita regras sobre como deve ser a família, o trabalho, a ética e até a fé.

E é exatamente aqui que mora o perigo: quando um cristão adota uma ideologia sem filtro, como se fosse um “pacote fechado”, ele pode acabar acreditando que, ao defender um determinado partido ou político, está automaticamente defendendo o Reino de Deus.

Contudo, a Bíblia é clara: o propósito de Deus para a humanidade só é encontrado plenamente nas Escrituras, e não em cartilhas humanas.

1. A Promessa de um Falso Messias

O pensador cristão David Koyzis nos lembra que as ideologias funcionam, muitas vezes, como formas secularizadas de religião. Elas nascem de uma insatisfação com o mundo atual. Algumas buscam uma revolução imediata (utopias), enquanto outras tentam sacralizar a ordem vigente e impedir mudanças.

E independentemente de serem revolucionárias ou conservadoras, todas as ideologias compartilham um traço perigoso: a idolatria. Isso se dá porque toda ideologia se apresenta com um caráter salvífico , ou seja, promete eliminar a injustiça, garantir a liberdade ou restaurar a moralidade puramente através do esforço humano e político. E ao fazer isso, ignora a realidade do pecado original e a necessidade de redenção divina, princípios basilares da fé cristã.

Nesse sentido, quando depositamos nossa esperança final em um sistema político, partido ou determinado candidato — seja ele qual for —, estamos caindo em idolatria. A ideologia exige fé e fidelidade absoluta, algo que só devemos a Cristo.

2. A Armadilha dos Rótulos: Esquerda e Direita

No Brasil, a polarização entre esquerda e direita atingiu níveis alarmantes, principalmente nos últimos anos. Mas é fundamental compreender que ambos os lados são ideologias e que em suas formas extremadas são problemáticas:

- A Esquerda por exemplo, muitas vezes cai na idolatria do Estado ou da igualdade forçada, acreditando que a mudança das estruturas sociais eliminará o mal do coração humano.

- A Direita, por sua vez, muitas vezes cai na idolatria do mercado, da nação ou da liberdade individual, acreditando que a preservação de certas tradições é, por si só, a salvação da sociedade.

E o grande perigo de se agarrar cegamente a um desses pólos é acabar defendendo o indefensável. Não podemos nos esquecer que extremos de ambos os lados já produziram horrores históricos. O racismo, por exemplo, historicamente encontrou abrigo em vertentes de extrema-direita que idolatravam a biologia e a raça. O comunismo, na extrema-esquerda, anulou a liberdade e a vida em nome de uma igualdade utópica.

Por isso, o cristão não deve buscar sua identidade primária nesses rótulos, pois nenhuma ideologia é neutra. Todas carregam sementes de idolatria que tentam rivalizar com a soberania de Deus. Como alerta Alister McGrath, permitir que nossas ideias sejam controladas por algo fora da revelação bíblica é nos tornar escravos de conceitos humanos.

Levando o Pensamento Cativo a Cristo

Como, então, a Igreja deve reagir? O apóstolo Paulo nos dá a estratégia em 2 Coríntios 10.4-5: “As armas com as quais lutamos não são humanas; pelo contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo”.

Como podemos perceber, Paulo fala sobre destruir “argumentos” e “toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus” e sobre levar todo pensamento cativo à obediência de Cristo. Ou seja, Paulo usa uma linguagem de guerra. Isso mostra que não estamos apenas debatendo ideias; estamos em uma batalha espiritual.

Quando nos sentimos frustrados com a corrupção, o desemprego ou a imoralidade, ficamos vulneráveis a aceitar qualquer promessa política que ofereça alívio rápido. É nesse momento que precisamos da “mente de Cristo”.

E a verdadeira sabedoria não vem dos discursos de Brasília ou das teorias acadêmicas, mas do temor do Senhor. “Levar o pensamento cativo” significa submeter nossas opiniões políticas — sejam elas de direita ou de esquerda — ao crivo da Bíblia. Significa ter a coragem de discordar do nosso “partido de estimação” quando ele contradiz a Palavra de Deus.

Conclusão

Para concluir, não existe ideologia perfeita, pois todas são obras de homens falhos. Como cristãos, nosso papel não é o de alienação, mas o de uma participação consciente e, acima de tudo, bíblica.

Antes de defender uma bandeira política com unhas e dentes, lembre-se: ideologias passam, governos caem, mas a Palavra de Deus permanece para sempre. Que nossa fidelidade máxima seja dada não a uma agenda política, mas ao Rei dos reis.

 

Ricardo Soares (@ricardosoarespr) é pastor batista, músico, terapeuta, professor de teologia e filosofia, palestrante e escritor. Autor do livro “Introdução à Filosofia Cristã: O Encontro da Fé com a Razão”, atua na área de aconselhamento e desenvolvimento pessoal, ministrando cursos e palestras voltados para saúde emocional, espiritualidade e formação cristã. É casado com Sarah e pai de duas filhas, Pâmela e Polyana.

* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: O cristão e a política: Discernindo a verdade

 

[1] Ideologia (Gr. idea [forma, aparência] + logia [estudo, tratado]) pode ser definida como um sistema coerente de ideias e crenças que oferece uma visão abrangente sobre a organização da sociedade e o propósito humano.

[2] Cosmovisão (Ger. Weltanschauung) é o termo usado para descrever o conjunto de crenças, valores e pressupostos básicos através dos quais um indivíduo ou grupo interpreta a realidade.

FONTE: http://guiame.com.br/colunistas/ricardo-soares/quando-politica-vira-religiao-o-perigo-da-idolatria-nas-ideologias-modernas.html


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