O choro de Raquel por seus filhos

  • 10/12/2025
O choro de Raquel por seus filhos
O choro de Raquel por seus filhos (Foto: Reprodução)

Assim diz o Senhor: Uma voz se ouviu em Ramá, lamentação, choro amargo; Raquel chora seus filhos; não quer ser consolada quanto a seus filhos, porque já não existem. Assim diz o Senhor: Reprime a tua voz de choro, e as lágrimas de teus olhos; porque há galardão para o teu trabalho, diz o Senhor, pois eles voltarão da terra do inimigo (Jeremias 31:15-16).

No último artigo, falei sobre o Livro das Lágrimas e as histórias de sofrimento nele registradas perante os céus. Desta vez, ainda nesse contexto, quero falar sobre a profundidade e o significado do sofrimento de uma mãe por seus filhos. O choro da matriarca Raquel por seus descendentes não apenas transcende gerações de israelitas, mas alcança e toca diretamente o coração de Deus.

Nada é tão comovente do que o choro doloroso de uma mãe em aflição ao ver a tragédia se abater sobre seus filhos. É o sentimento mais puro que une sofrimento, amor e compaixão e que mais se aproxima do coração de Deus. Isso está bem ilustrado nas Escrituras e nos comentários rabínicos a respeito de Raquel, uma das matriarcas de Israel.

Comentários da Midrash

Embora seja mãe de apenas três tribos de Israel, Rachel foi escolhida por Deus nessa profecia para representar a maternidade de todas as tribos. Ela é retratada derramando lágrimas por seus filhos, ao serem mortos, feridos, escravizados e deportados à força para o exílio babilônico. Suas lágrimas têm forte peso simbólico; seu choro é uma forma de intercessão por perdão e restauração. Esse tema de “lágrimas de uma mãe” é muito profundo e representa sofrimento, compaixão e esperança de redenção.

A literatura midráshica clássica discorre sobre esse episódio trágico, enfatizando o choro de Raquel como uma dor profunda que se prolonga no exílio, dia e noite. É como se ela visse o sofrimento de seus descendentes e ficasse inconsolável. Seu choro é tão comovente que consegue arrancar lágrimas do Senhor, pois “ela chora e faz com que o Santo, Bendito seja Ele, chore com ela”, conforme Isaías 22:12. “Ela chora e faz com que os anjos ministradores chorem com ela”, conforme Isaías 33:7 (Eicha Rabbah 1).

Ela não chora apenas ao ver as dez tribos de Israel levadas cativas para a Babilônia e, posteriormente, Judá e Benjamim, mas ela “chora amargamente” todas as noites do exílio. “Ela chora e faz com que os céus e a Terra chorem com ela”. “Ela chora e faz com que as montanhas e vales chorem com ela”. Os comentários na Midrash sobre o choro de Raquel se prolongam, estendendo seu pranto para os elementos da natureza e do universo, numa bela poesia, revestida de luto e lágrimas.

Duplo cumprimento

Como muitas profecias da Tanach, esta é de duplo cumprimento. A mesma matriarca Raquel é mencionada séculos mais tarde por Mateus ao escrever seu Evangelho. Ele a emprega para se referir a uma das piores tragédias da história de Israel, conhecida como o massacre de Belém, ordenado por Herodes contra todos os bebês e criancinhas de até dois anos de idade (Mt. 2:16-18).

O choro da dor de ver os filhos mortos e seu remanescente marchando em cadeias para o exílio era agora ouvido em Ramá. O choro das entranhas de Raquel aqui retrata o terror sofrido pelas mães da região de Belém que tiveram seus filhos arrancados de si à força para serem atravessados cruelmente pela espada. Não há palavras em nenhuma língua capazes de traduzir o lamento daquelas mães, o mesmo da matriarca Raquel que não suporta ver a desgraça dos filhos de Israel.

O poder do choro de uma mãe

Além de concordar com os comentários rabínicos sobre essa profecia, minha particular interpretação é de que Deus não resiste ao choro de uma mãe angustiada. Quando Ele diz a Raquel para reprimir sua voz de choro e suas lágrimas é como se dissesse: Eu não suporto vê-la chorando! Por um lado, Deus estava sendo justo ao cumprir sua promessa de castigo pelo pecado de seu povo. Por outro, seu caráter é de pura compaixão, especialmente diante de uma mãe dilacerada pela dor da perda dos filhos.

Por isso, logo em seguida, Ele promete trazer Israel de volta à sua pátria. Arriscaria dizer que essa decisão do Altíssimo foi tomada ao ver uma matriarca em um pranto inconsolável, a fim de levar conforto a seu coração sofrido. Na mesma profecia do choro santo e puro de Raquel, Ele diz que há recompensa para seu trabalho.

O trabalho de Raquel aqui mencionado foi um trabalho de intercessão e de lágrimas, como somente uma mãe consegue interceder por seus filhos. Foi também — por que não? — um trabalho de parto, como foi o de Benjamim, o caçula de todas as tribos cujo nascimento levou Raquel à morte. Aqui Raquel deu literalmente a vida pelo filho mais novo, do mesmo modo que Deus enviou seu Filho unigênito para dar a vida pelo mundo. Logo, não havia outra pessoa mais apropriada para protagonizar a profecia de Jeremias.

Se o choro de uma mãe por sua semente espalhada por várias gerações tem esse poder de tocar e comover o coração do Pai, o choro de qualquer mãe por seus filhos tem o mesmo efeito. Nunca despreze o choro de uma mãe, por mais incompreensível que pareça. Ele é precioso aos olhos de Deus. Seu pranto comove os céus e o universo, como o de Raquel, tem o poder de ecoar nas câmaras celestiais e inundar a Sala do Trono.

Para saber mais, acesse https://www.aoliveiranatural.com.br/2025/12/04/o-livro-das-lagrimas/

 

Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor de A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: O Livro das Lágrimas

FONTE: http://guiame.com.br/colunistas/getulio-cidade/o-choro-de-raquel-por-seus-filhos.html


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